É engraçado, pois não é que nos últimos dias tenho visto uma postagem na rede social Facebook dizendo que os vereadores de Acaraú querem acabar com o carnaval nos moldes como ele esta sendo concebido nos últimos anos em Acaraú.
O Carnacaraú, como ficou conhecido nos primórdios de suas primeiras edições, foi concebido de uma ideia que surgiu se eu não me engano na serra da ibiapaba, não sei se foi em Ubajara, São Benedito ou mesmo em Tianguá, o certo é que durante os primeiros anos, o carnaval de Acaraú mais afastou os foliões do que propriamente ao contrario, ou alguma coisa parecida!
A partir da incrementação nos investimentos, junto com a contratação de bandas de renome e a mudança da nomenclatura de Carnacaraú para o atual Acaraú Folia, é que o nosso carnaval começou a tomar corpo, e se transformar em uma referência carnavalesca no interior do estado.
Não irei aqui entrar na questão do mérito politico, até por crer não ser o intuito, mas irei sim, tentar ser sucinto quanto a problemática de cunho estritamente social, se é que se pode chamar de apenas problemática , já que o certo é que os idealizadores do carnaval nos atuais moldes, com vendas de abadás, privatização da praça e toda a estrutura que é montada durante o período momino, ao pensaram em uma coisa, acabaram sem querer acertando em outra.
Tudo bem que o nosso "Acaraú Folia" nos atuais moldes já se tornou uma tradição, que dentro do cercado da praça é muito seguro, que a estrutura, quando bem pensada, é muito interessante para os foliões, que é melhor (Opinião a qual eu também concordo), que atrai mais foliões, etc, etc, etc...
Mas paremos para pensar um minuto, será que o carnaval de Acaraú só pode existir nesses moldes? Alguém aí já parou pra pensar o quanto é difícil para um pai ou mãe de família que tem dois, três, quatro ou mais filhos, ter que arcar com os custos dos abadas? Isso falando somente dos abadas, porque se formos pensar em um todo, realmente desanima qualquer um! Aonde está escrito que uma família que apesar de não ter como arcar com as compras dos abadas, não tem direito de brincar o carnaval como qualquer outro cidadão de bem? Ok, essa mesma família poderá "assistir" a todo o espetáculo das bandas de fora do cercado, mas convenhamos, quem é capaz? É no minimo uma situação constrangedora, imagine você do lado de fora do cercado com sua família, vendo seus vizinhos pulando e se divertindo como se você e sua família não fossem dignos de esta ali, juntos dos demais.
Será que a segregação social que a qual nós nos submetemos é correta? Como diz a música "Será Imoral, Ilegal ou engorda?". É fácil para os críticos atacarem logo aos berros de demagogia, falacia politica, ou algo mais "pesado", mas fico pensando naqueles que não tem poder aquisitivo para bancar a farra momina, mas que sentem vontade de poder desfrutar do carnaval como qualquer outra pessoa de bem.
Concordo com aqueles que alegam que o carnaval de Acaraú nos moldes atuais, têm atraído uma grande quantidade de visitantes ao município, mas me pergunto se não haveria outras maneiras de promover o nosso carnaval sem que tivéssemos o poder de apontar o dedo e decidir quem tem o direito de brincar ou não!
Sempre que esse assunto vêm a tona, os defensores ferrenhos do "Acaraú Folia" já saem aos gritos, proferindo profeticamente que o carnaval de Acaraú acabará se for criada outras opções de organização carnavalesca. Eu pessoalmente gosto muito do carnaval de Acaraú, mas acho que já está na hora de procurarmos alternativas que possam engrandecer mais e mais nossa festa carnavalesca.
Uma das alternativas que vejo com bons olhos e que já são uma realidade pelas ruas de Acaraú durante o carnaval, são os blocos de rua que sem investimento algum por parte do poder público, reúnem-se, fazem suas cotas e desfilam em seus bairros de origem. A algum tempo atrás, quando eu ainda era criança, quase de colo, lembro-me da época em que o carnaval tinha seus desfiles pelas ruas, todo mundo fantasiado e que enchia de alegria o nosso Acaraú.
Porquê não abrir a praça para o povo e criar um espaço vip com vendas de abadas para aqueles que gostam, ou mesmo, a instalação de camarotes com serviços diferenciados para os foliões que querem acompanhar a folia com mais regalias? Tudo é uma questão de boa vontade!
Lógico que os tempos são outros, mas o que eu quero dizer é que existem sim maneiras de promover o carnaval Acarauense sem precisar privatizar o espaço público e praticamente extorquir os nossos foliões em busca da venda dos famigerados abadas.
A questão da segurança, estrutura, bandas e tudo mais que é dado como motivos para que não se mude os moldes de organização do nosso carnaval pode ser questionada através de uma simples palavra: INVESTIMENTO.
Pode ser que nos primeiros anos, tenhamos uma queda no números de visitantes, mas ao se conceber um carnaval organizado, com segurança, com uma infra-estrutura preparada para receber nossos foliões visitantes e com bandas de gosto popular, creio que rapidamente teríamos condições de recuperar nossa importância no carnaval Cearense, isso partindo do principio que todas a profecias catastróficas acabassem por se realizar, o que eu acho pouco provável.
Não conheço o teor do projeto, ou mesmo, se há um projeto na Câmara Municipal de Vereadores sobre o tema, mas creio que é salutar a discussão. A muitos anos, apesar de ter aprendido a aceitar e gostar do carnaval de Acaraú como ele é, venho crendo que já passou da época de se rever nossa organização carnavalesca.
Não quero crer que nós acarauenses, não tenhamos a capacidade de brincar, pular e se divertir no carnaval simplesmente porque não tem uma camisa dizendo quem pode ou não curtir o carnaval.
O certo é que bem ou mal, esta discussão é uma oportunidade maravilhosa que se apresenta a nós acarauenses através dos nobres vereadores, que ao lembrarem que o carnaval é uma festa popular, que deve ser realizada para todos os acarauenses e não somente para aqueles que tem o poder aquisitivo para bancar uma camiseta, fazem jus ao nome de representantes do povo.