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domingo, 4 de março de 2012

DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO E SEUS EFEITOS – PARTE II




Alex Pongitori Silveira é um acarauense apaixonado pela sua terra e formado em Turismo pela Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Professor e Coordenador dos cursos de Guia de Turismo e Hospedagem da EEEP Marta maria Giffoni. Acredita, com todas  suas forças, que o Turismo ainda vai mudar, pra melhor, a realidade de nossa cidade. E é colunista aos domingos do Blog de Notícias Acaraú, Vivendo e Sempre Aprendendo!



DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO E SEUS EFEITOS –  PARTE II

- Efeitos Socioculturais

O ser humano é  uma criatura social, ele tem a necessidade de interação para, dessa forma, conhecer, aprender e crescer. O turismo é uma atividade social, na verdade, a busca por essa troca mútua entre culturas é um dos grandes motivadores de fluxo turístico. Dessas interações, surgem impactos socioculturais que, seguindo a mesma lógica da primeira parte deste editorial, podem ser positivos ou negativos, tudo depende da forma com que a atividade é pensada.

A origem desses impactos está associada na troca de valores entre residentes e turistas, normalmente, ambos tem culturas diferentes, partindo-se do pressuposto que não pertençam à mesma região. Cultura deve ser conceituada, e portanto entendida, de uma forma mais ampla. As sociedades, sem exclusão, sejam urbanas ou rurais, possuem seu próprio conjunto de costumes, crenças e valores. Associar cultura às manifestações folclóricas, artísticas ou às construções históricas de um povo não é errado. Mas é incompleto. Deve-se associar também aos hábitos e comportamentos de uma comunidade.

Em meio a esse processo que se estabelece entre visitante e receptor, surgem as mudanças no contexto sócio cultural do lugar.

Impactos socioculturais negativos do turismo:

1) Alterações nos costumes e hábitos locais: talvez seja o impactos mais comum dentre os listados neste ponto, já que os turistas vestem-se de maneira diferenciada, tem hábitos alimentares e linguagens bem diferentes das locais. Os jovens, especialmente eles, começam a introduzir a maneira de falar, de vestir e de comer do turista ao seu estilo, em conseqüência, há a perda de costumes tradicionais que “vão ficando obsoletos frente às novidades advindas do turismo”.

2) Perda das características de expressões culturais: quando a produção de artesanato local passa a girar em torno do que o turista gosta e compra, já houve a descaracterização de uma expressão local, perdeu sua essência e naturalidade. As expressões folclóricas também passam a ser “encenadas” e estereotipadas, “coisa pra gringo ver”.

3) Prostituição e exploração sexual: os dos temas são graves problemas enfrentados por nosso país, em especial na região nordeste dele. Afinal de contas, a imagem que vendemos ao exterior por anos foi a de mulheres em trajes sumários, semi-nuas, no carnaval do Rio, especialmente nossos visitantes estrangeiros acreditam que o Brasil seja um país excessivamente liberal. Some-se a esse quadro a pobreza, a esperança de obter dinheiro rápido e o fato desses turistas o terem, e temos uma obra de arte ao contrário, muitas mulheres acabam prostituindo-se, e muitas delas menores de idade.

4) Degradação do patrimônio histórico-cultural: da mesma forma que as manifestações culturais podem se deteriorizar com a interação com turistas, a cultura material também pode. Como exemplo disso podemos citar o uso excessivo desses patrimônios, seu uso feito sem cuidado e atos de depredação dos mesmos.

Novamente, os impactos citados acima são advindos de falta de preparo e planejamento. A atividade turística pode sim evitar todos eles e mais, através dela podemos, por exemplo:

1) a manutenção e preservação de uma identidade cultural através do sentimento de orgulho gerado a partir da demanda de turistas que aquela manifestação atraiu, tendendo que ela seja fortalecida e propagada;

2) ou ainda quando ela se dá de forma espontânea, sendo valorizada pelo turista e residente, a comunidade local, especialmente os jovens, passam a envolver-se e dedicar-se à sua preservação;

3) os problemas de exploração sexual são amenizados quando se vendem outros atributos que não bundas, e consequentemente teremos outro perfil de turista, que certamente saberá valorizar melhor essas características;

4) sem contar com o fato de que se os patrimônios histórico-culturais são atrativos turísticos, haverá a necessidade de mantê-los preservados, para que estes continuem a gerar demanda.

Promover ações que tenham como finalidade preservar as características culturais de um povo, sejam materiais ou imateriais, também contribuirão para a perpetuação da sua memória e identidade, o que acabará fortalecendo sua cultura, gerando o já citado sentimento de orgulho, e assim a sociedade passará a ser vetor, no sentido de ajudar a evitar todos os impactos negativos tratados nesse editorial.

O primeiro passo pode, e deve, começar por nós mesmos.

Alex Pongitori

Turismólogo

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