ACARAÚ SEM TERMINAL RODOVIÁRIO, ATÉ QUANDO?

Páginas

sábado, 7 de janeiro de 2012

ACARAÚ DE MINHA INFÂNCIA


Teúnes Andrade é formado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará - UFC. Filho de acarauenses, nas suas horas vagas escreve no seu blog "Vou te Contar..." e a partir de hoje, escreverá aos domingos aqui no blog de notícias Acaraú, Vivendo e Sempre Aprendendo!

Confira,

ACARAÚ DE MINHA INFÂNCIA

Finda a última prova
Éramos despachados no Redenção
E transformados,
De meninos anônimos da capital
Nos netos do Santo Moura, 
Título maior que
Qualquer medalha no peito.

Dois mais dois são quatro.
Nosso quarteto de morte
Não era páreo para a fortaleza
Das tias-mães que nos recebiam com amor,
Mas nunca sucumbia a pieguice
Do querer por querer. 
Vô Santo.
Difícil falar de quem
Sempre habitou outra esfera
Na nossa imaginação e respeito. 
Almoço as onze,
Jantar as cinco.
Regras chatas
E inconcebíveis de burlar.
Figura inumana,
Mistura perfeita
Do doce como o sal. 
Orgulho ao mandar o neto,
Que mal completara cinco,
Ler o jornal sobre o balcão vincado
Diante dos banguelos amigos. 

Moedas para as balas,
Para sorvete e voltar rápido
Para casa antes de ele chegar. 
Acordar cedo para gozar mais.
Quebrar a rosca ao meio,
Usá-la como canudo
De puxar o café com leite
E correr para o umbuzeiro. 

Receber a meninada
Correr o pega-pega
E atrás de bacurins,
Cavar buracos que cabiam dois de nós,
Caçar calango na parede;
Construir casas, rodovias.
E carrinhos de madeira.
Nada ficou por fazer. 

Ai que frio!

Puxar a água da cacimba
E encher as tinas para o banho
Antes do almoço. 
Sentar na sombra da calçada,
Descansar a barriga do prato cheio.
Ouvir o assobio dos pássaros,
Sentir o vento morno de verão.

De tarde,
Algum tempo mais tarde,
Brincar de carimbo,
Pera, uva ou maça,
Passar o anel,
Chutar bola na Camboa. 
Camboa,
Salve a Camboa, ieiê.
Lama até os joelhos de aventura
E de perigo, muito corte feio no pé.

Pescar siri no Manzoá,
Furar a terra para o fogão,
Cozinhar o pirão e
Comer debaixo do sol
Vendo a torre da igreja
Que não deixava o tempo parar
Com suas baladas indiferentes
Aos nossos pedidos de imortalizar
Cada instante.  

À noite,
Muitas noites mais tarde,
Vieram as tertúlias,
Os carnavais,
Os namoros na praça.
Sorriso e choro
Andavam sempre juntos
Nos corações adolescentes. 
Viramos adultos ingratos.

Usamos o trabalho
E a família que formamos
Como desculpas para a ausência.
Os três meses de férias
Viraram rápidas e raras visitas
Pensar, lembrar, sentir.
Escancarar a dor da saudade
E se descobrir feliz.

Feliz pelo passado que teima
Em se manifestar e nos fazer chorar,
Não de tristeza, mas de alegria pelo
Amor eterno e indestrutível
Que nos construiu. 

2 comentários:

Claudimar disse...

Muito boa a "reportagem" e muito sensato de sua parte, caro blogueiro. "Revivi" em muitas das palavras desse sábio médico. Essas lembranças desafiam por demais a nossa capacidade de refletir e de se emocionar. Precipuamente para quem não vive na terrinha, como eu.
Sou acarauense e moro em Sobral, professor de MATEMÁTICA e estudante de FINANÇAS/UFC-SOBRAL, além de leitor assíduo deste blog.

Parabéns.

Trabalho em casa disse...

Olá gostei muito do seublog , sigo todos os dias

um forte abraço Alvaro Samuel