Ontem foi um dia de tristeza para o povo Brasileiro, completaram-se nesta segunda-feira (5) 120 anos da morte do imperador dom Pedro II, o governante que ficou mais tempo à frente do Estado brasileiro em toda a história do país. O aniversário da morte do monarca foi lembrado neste último, domingo (4), em uma missa na Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, que tem ligação histórica com a família imperial brasileira desde o século 19.
Segundo o historiador Bruno de Cerqueira, do Instituto Dona Isabel I, de preservação da memória ligada à família Orleans e Bragança, dom Pedro II foi figura central para a manutenção da unidade territorial brasileira.
Mesmo quando ainda era criança, dom Pedro II teria tido uma importância simbólica. Cerqueira explica que, sem a existência da figura do imperador, o Brasil teria se desintegrado em vários estados, na década de 1830, período em que dom Pedro I deixou o Brasil e o país teve que ser governado por regentes.
“Se não tivesse essa criança como centro do poder no Rio de Janeiro, não teria havido a continuidade do Brasil. O Brasil teria deixado de existir. Teriam sido criados diversos países aqui. Depois, em seu governo, foi ele que solidificou todas as instituições nacionais”, disse.
Nos dez anos em que o Brasil ficou sob o governo de regentes, ocorreram inúmeras revoltas, como a Balaiada e a Guerra dos Farrapos, que queria a independência do Rio Grande do Sul. Dom Pedro II foi coroado em 1841, com 15 anos de idade.
Segundo Bruno de Cerqueira, o monarca instaurou o parlamentarismo no Brasil em 1847, ao abdicar de parte das atribuições governamentais em favor de um presidente do Conselho de Ministros, uma espécie de primeiro-ministro.
No período em que dom Pedro II era imperador também ocorreram a Guerra do Paraguai, que se arrastou de 1864 a 1870, e a abolição da escravatura no país, em 1888. Dom Pedro foi retirado do poder com um golpe militar liderado pelo marechal Deodoro da Fonseca, que instaurou a República em 15 de novembro de 1889.
“A família imperial não reagiu. Se tivesse reagido, como queria o Conde d’Eu, genro do imperador e marido da princesa Isabel, teria havido um banho de sangue, uma guerra civil enorme no Rio de Janeiro. Para evitar essa guerra, a família decide se retirar do país. Aí, eles são banidos, na madrugada de 17 de novembro de 1889”, explica.
Já bastante debilitado pelo diabetes, dom Pedro II morreu dois anos depois, em 5 de dezembro de 1891, no exílio, em Paris, na França, vítima de pneumonia. “Ocorreu uma coisa extremamente interessante, porque a França deu honras de imperador. Cento e vinte mil pessoas assistiram ao funeral, mas a nossa República não permitiu que o embaixador do Brasil em Paris a assistisse”, conta.
Seus restos mortais só voltariam ao Brasil em 1920, depois do fim oficial do banimento da família imperial. Desde então, os restos de dom Pedro II estão sepultados no Mausoléu Imperial, dentro da Catedral de Petrópolis, na região serrana fluminense.
HISTÓRIA
Há quase 120 anos, em Paris, no dia 15 de novembro de 1891, um velho brasileiro lembrou-se com tristeza do segundo aniversário da Proclamação da Republica, e pensou em sua terra natal com nostalgia.
Tratava-se do ex-Imperador D. Pedro II, que – prematuramente envelhecido aos 65 anos – vivia modestamente no hotel Bedford em Paris, cercado apenas da atenção de alguns fiéis monarquistas e da família que lhe restara, após a morte da Imperatriz e de sua filha Leopoldina, e do internamento de seu neto Pedro Augusto, que enlouquecera no navio que os levava ao exílio.
A saúde do Imperador dera grandes sustos nos últimos anos, e D. Pedro estivera à morte em pelo menos duas ocasiões. Mas agora sentia-se relativamente bem, fora as mazelas habituais, e preparava-se para a reunião da Academia de Ciências da França, à qual pertencia, dali a uma semana, e para o desfile de conhecidos e amigos que inevitavelmente lhe prestariam homenagem no seu aniversário de 66 anos, na semana seguinte, em 2 de dezembro.
Ocorreu de fato uma romaria nesse dia, mas de outra natureza. D. Pedro já estava quase inconsciente, pois faltavam apenas dois dias para sua morte, na primeira hora do dia 5 de dezembro. O que se verificou nessas 72 horas foi uma procissão ininterrupta de visitantes que já sabiam o Imperador desenganado.
Após ter reinado por quase sessenta anos sobre o Império do Brasil, D. Pedro II morria num modesto quarto de um hotel parisiense de segunda categoria, no qual vivera o ultimo ano de sua vida.
Ao seu lado, nos momentos finais, estava o dedicado Dr. Claudio de Motta Maia, médico que o acompanhara por dez anos e a quem o Imperador por gratidão havia agraciado em 1888 com o titulo de Conde de Motta Maia.
Na hora do falecimento estavam também presentes duas das maiores sumidades médicas da França, acorridas às pressas para tentar salvar o doente ilustre: os professores Bouchard e Charcot, (que batizariam juntos o aneurisma Charcot-Bouchard). Charles Bouchard era considerado o maior patologista de Paris e Jean-Martin Charcot é até hoje célebre por ter sido o mestre de Freud, quando este veio completar seus estudos em Paris no hospital da Salpetrière, em 1885.
Nada puderam fazer, e imediatamente após o falecimento os médicos assinaram juntos o certificado de óbito, na letra de Charcot, aqui reproduzido, e traduzido a seguir:

"Nós, abaixo assinados, Professores da Faculdade de Medicina e doutores em medicina, certificamos que Dom Pedro II d’Alcantara morreu em 5 de Dezembro de 1891 à meia noite e 35 (da manhã) no hotel Bedford, 17 rue de l’Arcade, em Paris, em conseqüência de uma pneumonia aguda do pulmão esquerdo."
Paris, 5 de dezembro de 1891
J.M Charcot
C. de Motta Maia Bouchard”
Motta Maia conservou preciosamente o original deste documento, que foi pouco divulgado e reproduzido desde então. Seus bisnetos o venderam há quinze anos ao atual detentor. Assim, num simples papel de carta comum, permanece o registro oficial da morte do chefe de estado que por mais longo tempo governou o Brasil.
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