Nos dias 18, 19 e 20 de abril, o Liceu de Acaraú promoveu a Primeira Semana Indígena com o tema "Cultura e Saberes Tremembé". O evento marca o pioneirismo da escola em promover e abordar uma temática ainda pouco trabalhada pelas escolas brasileiras e muito mal interpretada pela maioria da população que desconhece a realidade dos povos indígenas. O evento foi coordenado pela professora de Sociologia Raquel, que antes de assumir o magistério trabalhou com as comunidades Tremembé do município de Acaraú.
Na abertura do evento, dia 18, um grupo de alunas da escola apresentaram uma dança temática, representando a herança cultural indígena presente na musicalidade de alguns grupos musicais. Logo em seguida, foi proferida uma palestra pelo Pajé Luis Caboclo, da aldeia Varjota em Itarema.
Durante sua fala, o pajé falou da herança cultural e histórica do povo Tremembé presente na população litorânea, sobretudo no baixo Acaraú. Segundo Luis Caboclo, não se pode negar a presença indígena na região, pois nem todos são aldeados, mas “tudo aqui tem sangue de índio”.
Após a fala, os alunos do Liceu puderam fazer perguntas para o palestrante que foram prontamente respondidas. Temas como o matrimônio, a religiosidade e alguns costumes dos índios Tremembé foram abordados pelos alunos em suas perguntas.
No dia em que se comemora o dia do índio, 19 de abril, a programação foi iniciada com a dança de um grupo de alunas da escola. Em seguida foi proferida uma palestra pelo professor da UFC, Babi Fonteles, que coordena o primeiro magistério superior indígena do Ceará, em Almofala. Durante a palestra, Babi chamou a atenção para que os professores e a escola pública reveja algumas visões equivocadas e preconceituosas acerca dos povos indígenas, sobretudo, reconhecendo a etnicidade e atualidade da presença indígena no Ceará. Além disso, é preciso deixar de ver o índio como uma figura da passado, afirmando sua contribuição para a formação da cultura brasileira. Segundo Babi, os índios não contribuíram para a cultura brasileira; eles contribuem e irão contribuir com seus conhecimentos, tradições, rituais e práticas para a construção dessa nação multicultural.
Em seguida o Cacique João Venâncio também falou para a platéia de alunos das escolas Liceu, Marta Gifoni e Teresa de Jesus Silva, sobre a importância da identidade indígena Tremembé, afirmando que não pelo fato dos índios não andarem mais nus e não falarem mais a língua nativa, que deixaram de ser uma comunidade indígena.
A programação do evento teve seu ponto alto com a apresentação da dança do Torém pelos índios Tremembé da aldeia Queimadas, de Acaraú, conduzida pelo Cacique João Venâncio. Após o convite do Cacique, professores, alunos e convidados entraram na roda e dançaram o Torém juntamente com os adultos e crianças Tremembé de Acaraú.
No último dia do evento, o tema foi o processo de organização social da comunidade Tremembé de Queimadas. Algumas lideranças, membros do Conselho dos Índios Tremembé de Queimadas – CITQ, fizeram o histórico do trabalho que se iniciou em 2009 com a ajuda do CRAS e da Secretaria de Trabalho e Assistência Social de Acaraú e do Instituto Carnaúba.
O professor Cleiciano Tremembé, tesoureiro do CITQ falou sobre o processo de mobilização e organização interna que resultou na fundação do referido conselho que neste no próximo mês completa dois anos de existência.
O professor Cleiciano Tremembé, tesoureiro do CITQ falou sobre o processo de mobilização e organização interna que resultou na fundação do referido conselho que neste no próximo mês completa dois anos de existência.
A Coordenadora Geral Maria Mirtilene, discorreu sobre os projetos de geração de trabalho e renda que as mulheres de Queimadas estão inseridas, como o PAA e o PNAE, onde através da produção de bolos e tapiocas, estão garantindo o sustento de suas famílias.
O Conselheiro Evaldo Nascimento contou a experiência do trabalho de um grupo de índios da aldeia com a adoção de práticas agroecológicas no cultivo e manejo da terra. Evaldo enfatizou que depois que o grupo de agricultores mudou sua forma de lidar com a terra e passou a adotar a Agroecologia como base da produção agrícola, estão conseguindo construir sua autonomia econômica de forma mais sustentável. Como resultados dessa mudança, o grupo vem investindo na consolidação dos sistemas agroflorestais, produzindo legumes, frutas e hortaliças e plantas medicinais. Além disso, estão reflorestando e recompondo a mata nativa através da produção de mudas.
O Assessor Técnico Ronaldo Santiago mediou a apresentação dos indígenas, ressaltando a importância da organização indígena, colocando-a como principal motivo para a superação dos problemas da aldeia, como também para a melhoria significativa das condições de vida dos Tremembé de Queimadas.
A primeira Semana Indígena, foi uma iniciativa pioneira do Liceu de Acaraú e se configura como o início da construção de uma nova história sobre os povos indígenas, sobretudo os Tremembé, superando preconceitos, visões estereotipadas e cristalizadas sobre os índios. Além disso, iniciativas desta natureza, estimulam uma aproximação das comunidades indígenas com as escolas e seus agentes, contribuindo para que os índios ajudem a escrever uma outra história.
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