Enquanto os conflitos no Norte da África e nos países do Oriente Médio - maior produtor mundial de petróleo - não devem impactar no curto prazo o preço dos derivados da commodity no Brasil, segundo avaliação da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis) e também conforme afirmou a própria Petrobras, em Fortaleza, o preço da gasolina deve caminhar na direção contrária.
Se o consumidor já achava que estava pagando caro pelo litro do combustível, pode se preparar para por ainda mais a mão no bolso. De acordo com o presidente do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis do Ceará (Sindipostos), Guilherme Meireles, até o fim deste mês, o valor cobrado pelo litro do produto poderá chegar à casa dos R$ 2,80.
Caso a projeção se confirme, a majoração será de aproximadamente 5,7%, considerando o valor médio comercializado pelos postos da Capital (R$ 2,65), segundo a última pesquisa semanal da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), realizada entre os dias 13 e 19 deste mês, em 73 estabelecimentos. Até então, o maior desembolso feito pelo fortalezense na aquisição do combustível foi de R$ 2,78 o litro, valor máximo cobrado pelos postos de Fortaleza no início de setembro de 2006.
"Aumento inevitável"
Segundo Meireles, o aumento de preço nas bombas tornou-se inevitável. "Do fim do ano passado até agora, o litro da gasolina cobrado pelas distribuidoras foi acrescido em torno de R$ 0,16. No início, eram aumentos semanais pequenos, em torno de R$ 0,01 a R$ 0,02, o que dava para segurar, mas só na semana passada foram R$ 0,06 de uma só vez, não dando mais para manter. Nossos valores estavam ficando muito defasados", justifica Meireles.
Ainda de acordo com o líder classista, os sucessivos aumentos no valor do litro do etanol também contribuirão para o provável reajuste da gasolina, dado que o combustível conta com uma mistura de 25% de álcool anidro. "Do fim de dezembro de 2010 até a última semana foram mais de R$ 0,20 acrescidos no litro do etanol vendido pelas distribuidoras", destaca Guilherme Meireles.
Etanol também sobe
Por conta disso, o preço do litro do Etanol também deve sofrer nova majoração, além da observada no mês anterior, quando o valor cobrado em Fortaleza ficava na casa de R$ 1,60 e, hoje, conforme a pesquisa semanal da ANP, é de, em média, R$ 1,95 o litro. Valor que, afirma o presidente do Sindipostos, deverá ser aumentado em mais R$ 0,10 ou R$ 0,12, ultrapassando, portanto a casa dos R$ 2,00.
"Por conta do preço mais convidativo do açúcar no exterior, com a produção de cana direcionada para a produção da commodity, está faltando etanol no Brasil. Estamos deixando de comprar da Paraíba e de Pernambuco, nossos principais fornecedores. Assim, ao buscar em outros estados mais distantes, temos a questão do frete, que também está mais caro. O serviço subiu mais de 70% nos últimos meses, impactando também no preço do etanol repassado pelas distribuidoras", argumenta Meireles.
Governo não se antecipou
No seu entendimento, o governo federal já deveria ter se antecipado para evitar os aumentos no etanol e na gasolina. "Assim como no ano passado, o governo federal já deveria ter diminuído o porcentual de mistura de etanol na gasolina de 25% para 20%, que fez com que os preços caíssem; assim como deveria manter um estoque regulador de etanol", avalia o presidente do Sindipostos.
Contraponto
"O litro da gasolina cobrado pelas distribuidoras foi acrescido em torno de R$ 0,16"
Guilherme Meireles
Presidente do Sindipostos
"No curto prazo, não creio que haja a necessidade de a Petrobras mexer nos preços"
Paulo Soares
Presidente da Fecombustíveis
OSCILAÇÕES EXTERNAS
Gabrielli descarta repasse no Brasil
Apesar das variações externas no valor do petróleo, presidente da Petrobras afasta a mudança nos preços
Porto Alegre/Rio/ Fortaleza. O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, voltou a admitir ontem, em Porto Alegre, que as cotações internacionais do petróleo podem passar por algumas oscilações, mas descartou mudanças na política de preços no País.
"Não vamos repassar para o mercado brasileiro a volatilidade do preço internacional", afirmou, durante entrevista coletiva no Palácio Piratini, sede do governo do Rio Grande do Sul. "Não vejo, nos fundamentos do mercado de petróleo, nada que justifique uma tendência permanente de aumento de preços", destacou o executivo.
Para justificar o raciocínio, Gabrielli lembrou que a produção mundial atual, de 86 milhões a 87 milhões de barris por dia, é pouco superior à demanda de 85 milhões a 86 milhões de barris.
O presidente da Petrobras citou ainda a capacidade ociosa da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), de 4 milhões a 5 milhões de barris por dia. "Não há razões para que o preço seja crescente. Está crescendo por razões especulativas", disse.
Fecombustíveis avalia
"No curto prazo, não acredito que haja a necessidade de a Petrobras mexer nos preços. O governo vai segurar o quanto puder. Até porque, o preço do diesel, um dos derivados do petróleo, é bastante sensível sobre a inflação. 80% do transporte no Brasil é feito por via rodoviária", destaca o presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda Soares.
Segundo ele, como a Petrobras é praticamente autossuficiente na produção de petróleo, ela, pode, conforme orientação do governo federal, segurar o preço da commodity e dos derivados tanto em situação de aumento ou de queda no cenário internacional. "Temos essa vantagem aqui no País. Além disso, o próprio Banco Central, segundo a última ata do Copom, não acredita em variação para cima nos preços dos combustíveis no Brasil neste ano. Exceto do etanol", afirma.
Praticamente nulo
A alta do preço do barril de petróleo no mercado mundial, por causa dos conflitos no norte da África, tem impacto praticamente nulo no curto prazo para o Brasil, é o que também acredita o analista Nelson Rodrigues de Mattos, do Banco do Brasil.
"Somente se a crise se prolongasse e o patamar de preços permanecesse por meses, teríamos alguma modificação nos preços internos da gasolina e do diesel. Já a alta dos demais derivados pode ter um impacto indireto em outros setores da economia", avalia Mattos. Ele destaca que o País também está isento dos efeitos de possíveis cortes na produção naqueles países, já que sua importação é derivada especialmente da Nigéria, fora da região do conflito.
Fonte: Jornal Diário do Nordeste
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