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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: Tragédias podem ser evitadas


O crescimento desordenado das cidades, migrações, ocupação de áreas de preservação ambiental, alto grau de impermeabilização do solo, principalmente pela malha asfáltica e de concreto são fatores que contribuem para agravar os problemas de enchentes nos centros urbanos. A situação tende a se agravar ainda mais diante de um novo cenário que se esboça em função das mudanças climáticas, cujos efeitos são sentidos em diversas regiões do mundo.

No Brasil, a cada ano, as chuvas de verão no Sul e Sudeste, acontecem nesta época do ano, trazendo à tona problemas que vão de simples alagamentos a catástrofes, como deslizamentos e soterramentos. No Nordeste, o período coincide com as chuvas da pré-estação e podem prenunciar situações de calamidade, como as enchentes vivenciadas em 2009, que atingiram as capitais nordestinas, em diferentes proporções. Grande parte localizadas em áreas litorâneas, a exemplo de Fortaleza, essas cidades contam com um agravante: a influência das marés que, neste período do ano, tornam as ondas mais altas, provocando as ressacas.

As consequências dos fenômenos são intensificadas em locais que sofrem maior incidência de agressão ambiental, sendo a erosão um deles. No litoral cearense são verificados nas praias do Icaraí, Trairi, Mundaú, Flecheiras e Acaraú. "Fortaleza não apresenta muitos problemas", tranquiliza Aloísio Santos Araújo, técnico em hidrografia do consórcio Marquise-Ivaí, que realiza trabalho de monitoramento das marés desde 1990, sendo verificado o aumento de cinco centímetros no nível de elevação do mar.

De olho nas mudanças climáticas, especialistas alertam para os danos que esses fatores podem causar ao meio ambiente, efeitos materializados em enxurradas e deslizamentos de terra, provocando mortes e catástrofes ambientais. A adoção de políticas públicas, educação ambiental e respeito ao meio ambiente constituem formas de evitar essas situações que se repetem a cada ano, basta chover.

Ações Preventivas
Fortaleza é um exemplo dessa ausência de ações preventivas para conter não apenas as cheias, mas enfrentar o novo cenário que se delineia em função do aquecimento global. O professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, chama a atenção para a importância da preservação dos manguezais, dunas, lagoas costeiras, sobretudo no litoral.

Os ecossistemas "servem para amortecer as consequências das cheias", além de proteger a população dos efeitos do aquecimento global, conforme prognóstico do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). No entanto, o que se pode observar é que cada vez mais a especulação imobiliária abocanha esses espaço que deveria servir de reserva ambiental.

"Grande parte desses ecossistemas é vítima da especulação imobiliária e ocupação danosa", afirma o professor, lembrando que alguns países estão colocando na ordem do dia esta preocupação, como Espanha e Cuba, onde a atividade turística é prioritária, como é o caso do litoral nordestino.

A ocupação dos ecossistemas deve ser gerida nas pequenas e médias cidades, priorizando o saneamento básico e a recuperação da cobertura vegetal. Em Fortaleza, é importante manter a preservação das margens do Rio Cocó e a Praia do Futuro sem a verticalização. "É preciso garantir essa brisa", completa o pesquisador.

Sobre ações dessa natureza, toma como exemplo o Plano de Manejo do Parque de Sabiaguaba, por garantir a preservação integral do ecossistema. "É necessário assegurar as funções das cidades", diz, observando este novo desenho ambiental, para que daqui a 50 anos as dunas do Cocó e da Sabiaguaba continuem sendo áreas importantes para a biodiversidade.

Conscientização
Gestores de cidades localizadas em áreas litorâneas do Planeta já demonstram conscientização sobre a dimensão de preservar essas áreas, argumenta Jeovah Meireles: "Trata-se de uma preocupação mundial". E acrescenta que uma delas é a elevação do mar. Com relação a obras que estão sendo previstas em Fortaleza, principalmente com vistas à Copa 2014, ressalva: "Caso forem realizadas com bom estudo, material e de forma adequada não acarretam prejuízos".

Este é o caso da dragagem do Porto do Mucuripe que pode ajudar a melhorar a situação. Na Espanha, a dragagem é usada para gerar sedimento na faixa de praia. Em Cuba, a retirada de casarões da faixa de praia serve para garantir a preservação da costa. Ação semelhante está sendo feita em Portugal, levando em consideração o aquecimento global.

Por aqui, a especulação imobiliária ignora a preocupação, podendo levar ao agravamento do quadro. Os prejuízos serão inevitáveis, é apenas questão de tempo. Os terrenos continuam sendo ocupados de forma indiscriminada, como os campos de golf que existem e estão sendo construídos em áreas extremamente frágeis, destaca.

Os prejuízos são contabilizados em forma de degradação ambiental, em perdas econômicas e problemas sociais. "As populações costeiras e ribeirinhas são expulsas para as cidades", diz o professor.

Fique por dentro
Migração aumenta

Conforme dados do Censo 2010, a população do litoral Norte paulista aumentou 11% nos últimos 10 anos - acima das médias estadual e nacional. O Censo constatou o que os pesquisadores da Unicamp já desconfiavam. Atentos às mudanças climáticas e suas relações com o movimento das cidades, o Núcleo de Pesquisas Ambientais da Unicamp conclui estudo mostrando a relação entre as mudanças climáticas, o crescimento populacional, em grande parte em decorrência da construção de empreendimentos voltados à exploração de petróleo podem contribuir para aumentar as vulnerabilidades socioambientais dessas cidades.

Conforme Lúcia da Costa Ferreira, coordenadora da pesquisa, "por suas próprias características ecológicas, a zona costeira do litoral paulista já é muito sensível a qualquer alteração climática, como chuvas intensas. O projeto temático "Crescimento urbano, vulnerabilidade e adaptação: dimensões ecológicas e sociais de mudanças climáticas no litoral de São Paulo" continua em 2011.

IRACEMA SALESREPÓRTER

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