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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Mesmo com salários mais altos, médicos não querem o Interior


Se em Fortaleza faltam médicos nos hospitais e postos de saúde, fora da Capital o problema é ainda mais grave. “Falta tanto o clínico geral para as equipes do Programa Saúde da Família (PSF) quanto especialistas”, relata o presidente do Conselho dos Secretários Municipais da Saúde no Ceará (Cosems-CE), Policarpo Barbosa. Dos cerca de 8.500 médicos na ativa no Estado, aproximadamente 6.500 trabalham em Fortaleza, ficando somente dois mil para os outros 183 municípios cearenses. “É mal distribuído. Os médicos preferem os grandes centros e fogem da cidade pequena”, lembra o presidente do Sindicatos dos Médicos do Estado do Ceará (Simec), Tarcísio Dias.  “O Interior tem menos atrativo para o profissional. É por isso que se tem dificuldade de contratar (médico), mesmo com concurso. Tem o problema do deslocamento, da pouca infra-estrutura, de como vai educar os filhos (numa cidade pequena)”, enumera Policarpo Barbosa. De acordo com ele, a “carência imediata” das cidades é de, pelo menos, 400 médicos para o Programa Saúde da Família (PSF). Em Cascavel, por exemplo, onde Policarpo é secretário municipal de saúde, a demanda é de 18 médicos, mas, atualmente, há apenas oito.  No site do Sindicato dos Médicos, é extensa a lista de anúncios de vagas para profissionais do PSF no Interior. Em Morrinhos (a 220 quilômetros de Fortaleza), o secretário municipal de saúde, Antonio Helder Arcanjo, conta que está “precisando urgente” de três médicos. Mesmo sendo oferecido um salário bruto de R$ 7.800, segundo ele, a “dificuldade de contratar médico é enorme”. E quando encontra, geralmente o profissional fica pouco tempo no município. “Na hora que aparece outra cidade que paga mais, sai daqui”, diz. Em Pentecoste (a 103 quilômetros da Capital), também há a necessidade de três médicos para completar o quadro de profissionais nos onze postos de saúde da cidade. “Hoje, só temos oito trabalhando”, informa a coordenadora do PSF no município, Geciliane Monteiro.  “Para não deixar a população sem atendimento, a gente fica intercalando os médicos (nos postos de saúde)”, explica Geciliane. De acordo com ela, o salário líquido oferecido ao médico é de R$ 4.100. Desde agosto do ano passado, a Prefeitura vem colocando anúncios nos jornais e sites especializados, mas o retorno tem sido pouco. “Quando ligam, acham pouco o salário”, diz. Em Farias Brito (a 481 km de Fortaleza), a Secretaria de Saúde do Município demorou “quase um ano” para conseguir contratar o médico que faltava para completar as equipes do PSF. “O salário é de R$ 5.500 líquido”, informa a coordenadora do PSF, Ana Paula Gomes.  Policarpo Barbosa lembra que, ao contrário da Capital, onde, geralmente, o médico que tem emprego público também trabalha na rede privada, o profissional que fica no Interior tem menos alternativas para complementar a renda, já que a maioria das cidades conta com poucos hospitais particulares. Para ele, esse também é um dos motivos que levam os médicos a preferir Fortaleza. Além disso, lembra Policarpo, é na Capital que ficam os hospitais com maior infra-estrutura e com residência médica.  E-MAIS  > As vagas para residência médica oferecidas pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) são ofertadas nos Hospital de Messejana; Hospital Geral Doutor César Cals; Hospital Geral Doutor Waldemar de Alcântara; Hospital Geral de Fortaleza; Hospital São José de Doenças Infecciosas; Hospital de Saúde Mental de Messejana e Hospital Infantil Albert Sabin.  > O Hospital Regional do Cariri, em Juazeiro do Norte, foi projetado para atender a uma área com 1,3 milhão de habitantes e está orçada em mais de R$ 60 milhões. O atendimento será de urgência e emergência, com 210 leitos. > Já o Hospital Regional da Zona Norte, em Sobral, deverá atender a uma população de 1,6 milhão de pessoas. O projeto, incluindo as verbas para construção e compra de equipamentos, está orçado em R$ 76 milhões. Assim como o do Cariri, o atendimento será de urgência e emergência, no mesmo perfil do Instituto Doutor José Frota (IJF), localizado em Fortaleza.  > Fora da Capital, há apenas três faculdades de Medicina: as duas da Universidade Federal do Ceará (uma na cidade de Sobral e a outra em Barbalha, no Cariri) e a Faculdade de Medicina de Juazeiro, também no Cariri.  RESUMO DA SÉRIE  > Durante três dias, a série mostrou o problema da falta de médicos nas unidades de saúde da Capital e do Interior. Muitas vezes, as vagas existem, mas faltam profissionais disponíveis no mercado. Em Fortaleza, os hospitais secundários da Prefeitura apresentam déficit no quadro de médicos concursados. Nos postos de saúde, a situação também é difícil. Um dos motivos pelo desinteresse é a falta de infra-estrutura nas unidades. 

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