ACARAÚ SEM TERMINAL RODOVIÁRIO, ATÉ QUANDO?

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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

CRIATIVIDADE: Existem 250 formas de pescar






A pesca - atividade indígena anterior à chegada dos navegadores portugueses ao Brasil - deu origem a inúmeras culturas litorâneas regionais, entre as quais a do jangadeiro, no litoral nordestino do Ceará ao sul da Bahia; a do caiçara, no litoral do Rio de Janeiro e de São Paulo; e o açoriano, no litoral de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, descreve o sociólogo Antonio Carlos Sant´Ana Diegues, diretor científico do Núcleo de Apoio à Pesquisa de Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras (Nupaub), da Universidade de São Paulo (USP), no artigo "A sócio-antropologia das comunidades de pescadores marítimos no Brasil".

Lutador diário, o pescador nordestino recorre à experiência e à improvisação para resolver os problemas que surgem na jangada, todos mínimos e todos vitais. Isso já dizia Câmara Cascudo ainda nos anos 50 do século XX, no livro "Jangada": "Da solução subsequente ao aparecimento da causa dependerá possivelmente sua vida ou um dia inteiro de esforço".



Não é a toa que, dentre as muitas características do pescador nordestino, destaca-se a extrema criatividade, lembra o biólogo Rodrigo de Salles, que estuda o assunto em seu doutorado. "Primeiro produtor de pescado no País, esse trabalhador detém mais de 250 formas de pesca artesanais, que vão depender do ambiente, espécie, profundidade, etc", destaca. O pescador artesanal usa linha; redes, de variados tamanhos e malhas; e também manzuás. Além disso, a pesca, na região, envolve vários tipos de embarcações à vela, remo ou motor. Hoje, os botes são comuns em Camocim e Icapuí, dois extremos do litoral Cearense. No restante, entre o predomínio da jangada, que não é mais aquela de piúba, há os paquetes. Subindo os rios, ainda nos estuários, encontram-se as canoas.



Alguns pescam diretamente no mar, há pesca de uma jornada e de vários pernoites. Outros pescam nos estuários, nos rios, nos manguezais. Há quem viva da cata de mariscos e/ou de crustáceos.

Dependendo das características da praias, há os inusitados currais e camboas, cercados próximos à praia que, na maré seca, deixam aprisionados os peixes, que são recolhidos depois de algumas pedaladas de bicicleta. Este é o caso de Arpoeiras, a maior praia seca do Brasil, localizada em Acaraú, a 235 quilômetros de Fortaleza, de onde saem dos currais a principal fonte de sustento dos moradores do distrito de Curral Velho.



Quando não está pescando, não apenas dá manutenção aos equipamentos e embarcações. Cria novas possibilidades, cultiva um roçadinho e, mais raro, investe em alguma criação. Com a família, às vezes cultiva mariscos e algas, atividades que dependem de apoio externo para o domínio das técnicas.

REFORÇO NO ORÇAMENTO
Família unida para complementar renda


A pequena Priscila nem tem dois anos de idade e já se diverte, na praia, catando búzios e ajudando a mãe, Josenira da Conceição dos Santos, de 39 anos. Vão logo ao nascer do sol, na praia de Redonda, em Icapuí, no litoral oeste do Ceará, a 200 quilômetros de Fortaleza.


Há meses a rotina diária de famílias como a de Josenira tem sido assim, logo quando a maré vaza, cedo da manhã, já que o conflito entre os tradicionais pescadores artesanais daquela praia com os pescadores de compressor tem os tem afastado do mar. Famílias inteiras amanhecem na praia, à cata de búzios. É bem verdade que a atividade não rende muito, mas garante proteína na mesa de famílias inteiras em tempos de escassez.

A pesca sempre foi e provavelmente continuará sendo a principal atividade econômica desenvolvida nas comunidades que vivem no litoral cearense. É bem verdade que muitos filhos de pescadores têm buscado outras atividades ou mesmo se envolvido com o turismo crescente na nossa costa.


Jefferson Souza, do Programa de Gestão Costeira do Instituto Terramar, destaca que atividades como turismo comunitário, coleta e beneficiamento de algas, cata e cultivo de mariscos, artesanato, agricultura de subsistência, também tradicionais, não são alternativa à pesca. São atividades complementares na constituição da renda familiar e servem também como ferramentas de fortalecimento da cultura e identidade dos povos do mar, bem como, de resistência diante das ameaças ao território, conforme destaca.

OUTROS PRODUTOS DO MAR
Alga também dá lucro


Cosméticos e alimentos de algas marinhas já estão no mercado há algum tempo. Poucos, porém, sabem como são cultivados esses seres aquáticos. Na bela praia de Flecheiras, município de Trairi, litoral oeste do Ceará, a 157 quilômetros de Fortaleza, nos fim dos anos 1990, foi iniciada experiência envolvendo catadoras de "lodo" (nome popular da alga marinha na região); pescadores artesanais; técnicos do Instituto Terramar; e pesquisadores do Laboratório de Recursos Aquáticos (LARAq) e do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Ceará (UFC).

O objetivo foi desenvolver modos de produção, geração de renda e organização coletiva com igualdade de gênero. O cultivo, conforme os envolvidos na experiência, propicia desenvolvimento de fauna aquática e reduz a pressão sobre os bancos naturais de algas, já ameaçados no litoral do Nordeste.

Hoje as algas, selecionadas, são cultivadas no mar. A coleta é feita em paquetes. Na praia, onde fica o Centro de Processamento de Algas, painéis solares bombeiam água do lençol freático para mesa onde são lavadas. Depois, são levadas ao secador solar, que desidrata com controle de temperatura, sem risco de queimar. Essa tecnologia foi desenvolvida, pelo Projeto S.O.S Algas, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis (Ider). Das 300 espécies de algas que se estima existirem nos mares de Flecheiras e Guajiru, a Gracilaria birdiae, conhecida como "macarrão fino", é bastante utilizada na indústria alimentícia e de cosméticos. Com a assessoria de pesquisadores da Universidade de Fortaleza (Unifor), a comunidade desenvolveu linha, que contém alimentos, cosméticos e artesanatos, sob a marca "Sementes do Mar".

A Associação dos Produtores de Algas de Flecheiras e Guajiru (APAFG) envolve 11 famílias, tanto no ciclo de cultivo quanto no beneficiamento dos produtos, além de atividades complementares, como a participação na Rede Cearense de Turismo Comunitário (Tucum).

As atividades que, conforme o presidente da APAFG, Eridan Viana, pescador artesanal de 53 anos, não estão mais avançadas devido à carência de apoio governamental. "Continuamos porque somos persistentes", diz.

POESIA
A Jangada

Minha jangada de vela.

que vento queres levar?

tu queres vento de terra,

ou queres vento do mar?

minha jangada de vela,

que vento queres levar?

Aqui no meio das ondas,

das verdes ondas do mar,

és como que pensativa,

duvidosas a bordejar!

minha jangada de vela,

que vento queres levar?"

Juvenal Galeno

POESIA
A Jangada

Ei-la solta no mar ligeiro esvoaçando.

Como um vasto lençol

Para as nuvens azuis, sublime levantando

As asas colossais, brilhantes como o Sol."

Farias Brito

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